Entr[e]stações
"Estou nesse 'entre', tendo as 'estações' como local escolhido para determinada pesquisa, observação ou registro, onde parei e coloquei um marco, traduzindo essencialmente o conceito de ciclo, de movimento, da experiência, um tempo gerúndio que faço existir...
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outono 2018
"ComparTRILHAmentos poéticos"
Durante o outono de 2019, caminhei nas margens do Douro, agendando os dias com folhas sagradas recolhidas em cada lugar que passava. Elas indiciaram minhas trilhas em Portugal durante meu estágio de pós-doutoramento na Faculdade de Belas Artes, na Universidade do Porto.
Nesses percursos diários, desenhei analogias poéticas entre as nervuras dessas folhas e os trançados nagô que desvelavam os caminhos para os quilombos.
Modelei e pintei.
Assim, musgos, nervuras, cristais, corantes, transparências, pigmentos, tranças e quilombos se expandiram dos objetos, que registravam em si as marcas de todo processo, deixando o azul ultramar tingir meu imaginário e minhas telas.
Revisitei, então, minha produção e atuação no ensino da arte, iniciadas em 1972. Rememorei inúmeros projetos realizados e muitas trilhas compartilhadas com nosso grupo de pesquisa MaMeTo – CNPq, alunos e comunidades, em outras margens fluviais – Paraguaçu, Tietê, Turia, Reno e Orange.
Como convém a uma artista pesquisadora, escrevi o livro ComparTRILHAmentos poéticos, defendendo o Memorial para promoção a Professora Titular da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, em junho de 2020, em plena pandemia.
Tempo de espera e recolhimento – SILÊNCIO.
Tecendo fibras e as colorindo com folhas tintoriais, organismos foram surgindo – ninhos,
casulos, crisálidas...
Outras modelagens foram, aos poucos, pousando nas telas. Os metais amarelos e brancos, usados nas ferramentas dos orixás, eternizaram folhas sagradas, enquanto as linhas curvas dos rios abriram caminhos invadindo verticalidades e horizontalidades urbanas que aqui se cruzam e repousam nas telas, ao mesmo tempo em que as cores amanhecem, entardecem e anoitecem.
Nessa exposição retrospectiva, só gratidão.
Agradeço a todos que trilharam meus caminhos nesses 50 anos de arte. Especialmente, a minha família pela cumplicidade. Aos membros do grupo de pesquisa MaMeTo CNPq por tantas trilhas coletivas. Aos parceiros acadêmicos, aqui representados pelas palavras de Nanci Santos Novais, Yumara Pessôa e Maria Herminia Hernández. Aos membros da banca para minha promoção a Professora Titular, aqui simbolizados pelas palavras de Ana Mae Barbosa e Lucimar Bello. Aos amigos de todas as margens, lembrados aqui pela artista portuguesa Teresa Almeida, que celebra este momento instaurando aqui uma obra de sua autoria. A meus alunos, refletidos aqui nos trabalhos de ex-orientandos e orientandos atuais do PPGAV, que também cederam obras nesses comparTRILHAmentos poéticos. À preciosa curadoria de Luiz Alberto Freire, a musicalidade de Paulo Costa Lima e a toda equipe da produção e do MAB pelo profissionalismo.
Muito obrigada!
Viga Gordilho
outono 2022